EXPOSIÇÕES “DELL’ARCHITETTURA” INAUGURAM NO PALACETE DAS ARTES, EM SALVADOR

Investigação fotográfica sobre a influência italiana na paisagem carioca e a presença italiana na paisagem soteropolitana são temas das duas mostras realizadas pelo Instituto Italiano de Cultura

Do dia 9 de agosto a 9 de outubro, o Palacete das Artes, antiga residência do Comendador Bernardo Martins Catharino, em Salvador, receberá as duas exposições “Dell’Architettura”, cada qual com uma abordagem diferente. No andar térreo, “A presença italiana na paisagem soteropolitana”; no pavimento superior, “Investigação fotográfica sobre a influência italiana na paisagem carioca”, ambas realizadas pelo Instituto Italiano de Cultura.

Foto Manuel Sá -“Dell’Architettura – A presença italiana na paisagem soteropolitana”

Dell’Architettura -A presença italiana na paisagem soteropolitana

Nas três primeiras décadas do século passado, a paisagem soteropolitana foi transformada de forma indelével por um grupo de imigrantes italianos: engenheiros, arquitetos, construtores, decoradores, pintores e escultores, oriundos das mais diversas regiões italianas, da Calábria à Toscana, da Basilicata ao Lácio, do Piemonte à Sicília.

Estes personagens tiveram um papel fundamental na modernização urbana de Salvador, contribuindo para a difusão de uma nova linguagem arquitetônica: o Ecletismo. Caracterizada pela profusão de ornamentos tanto nas fachadas quanto nos interiores, contrastando com a vetustez dos sobrados coloniais que ainda predominavam em Salvador, o Ecletismo foi, como observa o pesquisador italiano Luciano Patetta, a primeira expressão arquitetônica a ter alcançado uma verdadeira difusão global, disseminando-se por contextos tão distintos quanto as capitais dos novos países independentes da América do Sul, como Rio de Janeiro, Buenos Aires e Montevidéu; as então colônias inglesas, francesas, holandesas e portuguesas na África e na Ásia; ou ainda as nações orientais que começavam a se abrir para o Ocidente, como o Japão e a Turquia.

O Ecletismo também incorporou à arquitetura, pela primeira vez, sofisticados elementos de ferro e vidro fabricados na Inglaterra, Bélgica, Alemanha, França ou Estados Unidos, como podemos observar, por exemplo, na monumental escadaria do Palácio Rio Branco ou na elegante marquise lateral do Palacete do Comendador Bernardo Martins Catharino.

Dentre estes personagens, os primeiros italianos a chegar a Salvador foram artistas, como o escultor Pasquale De Chirico, natural de Potenza, e o pintor florentino Oreste Sercelli, que aqui aportaram, vindos de São Paulo, por volta de 1905 para trabalhar na reconstrução da antiga Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, a convite do engenheiro Theodoro Sampaio, diretor da obra. Os profissionais da construção civil, por sua vez, somente começaram a se instalar em Salvador no início da década de 1910: Battista Rossi em 1911, proveniente do Rio de Janeiro; Alberto Borelli no ano seguinte, vindo de São Paulo; Filinto Santoro em 1913, após trabalhar no Rio de Janeiro, Vitória, Manaus e Belém. Esses profissionais eram chamados de “arquitetos”, embora apenas alguns, como Santoro e Giulio Conti, tivessem formação em engenharia e a maioria não possuísse nível superior, sendo, na realidade, capocantieri ou capomastri, o equivalente aos nossos mestres-de-obras.

A obra que assinalou o início deste processo em Salvador é o palacete do Comendador Bernardo Martins Catharino, atual Palacete das Artes. Para projetá-lo, o proprietário trouxe, da então capital, o “Architecto Constructor” Battista Rossi, que se consolidaria como o projetista preferido da nova burguesia baiana. Santoro, por sua vez, foi o autor das principais obras públicas das décadas de 1910 e 1920.

Outros projetistas e construtores italianos atuantes em Salvador neste período, como Alberto Borelli, Giulio Conti e Michele Caselli, são personagens dos quais se dispõe de pouquíssima informação. Não se sabe se residiam aqui ou em outras capitais, de que região da Itália procediam e, em muitos casos, nem mesmo se tinham alguma formação acadêmica.

Esta exposição fotográfica, promovida pelo Istituto Italiano di Cultura do Rio de Janeiro, visa lançar luz sobre a produção dos Santoro, Rossi, Conti, Borelli, De Chirico, Rebecchi, Caselli e tantos outros que contribuíram para modernizar nossa cidade e cujos traços ainda marcam a nossa paisagem urbana. E é ainda mais representativo que esta exposição se materialize no Palacete Catharino, obra símbolo dessa produção.

Nivaldo Andrade, curador

Dell’Architettura – Investigação fotográfica sobre a influência italiana na paisagem carioca

Quando se comenta sobre a arquitetura do Rio de Janeiro muito se fala da influência francesa nos edifícios da cidade. Mas o que têm em comum obras como a do Moinho Fluminense, na Zona Portuária; o Hospital da Cruz Vermelha, no Centro, e a atual sede da EAV, no Parque Lage? São exemplos do legado deixado por arquitetos italianos na paisagem do Rio. A influência italiana na nossa arquitetura é vasta como a da França. Ou maior, se considerarmos o fato de que arquitetos como Grandjean de Montigny (1776–1850), por exemplo, realizaram seus estudos – ou parte deles – em Roma. Há muito da Itália no Rio e uma exposição vai jogar luz sobre isso. Dell’Architettura – Investigação fotográfica sobre a influência italiana na paisagem carioca traz 37 painéis fotográficos em preto e branco de prédios que têm a Itália no DNA. As imagens são do fotógrafo, professor e artista visual Aristides Corrêa Dutra, que assina a curadoria e os textos da mostra juntamente com a diretora do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, Livia Raponi.

Sobre os prédios citados

O Moinho Fluminense é uma joia criada pelo calabrês António Januzzi (1853–1949), responsável também pela construção da Igreja Metodista do Catete. Já o Hospital da Cruz Vermelha é obra de Pietro Campofiorito (1875–1945), que nasceu em Roma e terminou a vida em Niterói. Já a sede da EAV, no Parque Lage, foi erguida pelo sardo Mario Vodret (1893–1948) como um presente do empresário Henrique Lage (1881-1941)  à mulher, a cantora lírica Gabriella Besanzoni Lage (1888-1962). Esses arquitetos italianos são apenas três dos grandes nomes cujas obras compõem Dell’Architettura – Investigação fotográfica sobre a influência italiana na paisagem carioca. Desse total, 11 são italianos. A lista inclui três europeus – o português José da Costa e Silva (1747–1819), o francês Grandjean de Montigny (1776–1850) e o ucraniano Gregori Warchavchik (1896–1972). As presenças brasileiras são a do paulista Rino Levi (1901-1965), autor do Hospital General do Nascimento Vargas (atual Hospital Federal de Bonsucesso), e a do carioca Olavo Redig de Campos, autor da casa que pertenceu ao banqueiro Walther Moreira Salles (1912-2001) e que abriga hoje o Instituto Moreira Salles, na Gávea.

A Itália ainda não era a nação que conhecemos hoje (sua unificação concluiu-se em 1870), quando sua arquitetura começou a ganhar o mundo. Mais exatamente a partir da expansão do Império Romano pela Europa, Egito e parte do Oriente. A chegada ao Brasil de arquitetos dos estados que formam hoje a Itália dá-se sobretudo a partir de 1843, por ocasião do casamento de Dom Pedro II com a princesa Teresa Cristina, do Reino das Duas Sicílias. No entanto, a influência dessa arquitetura faz-se notar por aqui já no Primeiro Reinado, nos traços greco-romanos, maneiristas e barrocos da arquitetura colonial. Trata-se de uma influência longeva, que perpetua-se ainda, sendo mais profícuo o período que vai do Classicismo ao Modernismo, passando por estilos como o art noveau(chamado na Itáliade Stile Liberty) e o art déco. É esse o recorte de Dell’Architettura – Investigação fotográfica sobre a influência italiana na paisagem carioca. O título “Dell’Architettura” vem do “I quattro libri dell’architettura”, escrito e ilustrado pelo mestre renascentista Andrea Palladio (1508-1580), e uma das referências máximas na expansão do classicismo mundo afora.

Para Livia Raponi, diretora do IIC Rio e também curadora da exposição, a mostra faz com que, “através da pesquisa e das imagens realizadas por Aristides, nos deparemos, com vivo interesse, com um Rio de Janeiro bem mais italiano do que se pensa, considerada nos prédios e monumentos da cidade a amplitude e a difusão da influência de arquitetos, engenheiros, decoradores, mestres especializados italianos, ou formados na Itália”.

Serviço:

Dell’Architettura – Investigação fotográfica sobre a influência italiana na paisagem carioca

Artista: Aristides Corrêa Dutra

Curadoria e textos: Livia Raponi e Aristides Corrêa Dutra

Dell’Architettura – A presença italiana na paisagem soteropolitana

Artista: Manuel Sá

Curadoria e textos: Nivaldo Andrade

Realização: Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro

As mostras contam com o apoio do Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro, Embaixada da Itália no Brasil e UIA Rio 2021

Abertura: dia 9 de agosto, às 18h30

Local: Palacete das Artes

Endereço: Rua da Graça, 284, Graça, Salvador, Bahia. 

Visitação: 10 de agosto a 9 de outubro

Horário: de terça a sábado, das 13h às 18h

Entrada: gratuita

Classificação: livre

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